
Eu não tinha muitas expectativas quando li Her Shim-Cheong. Era minha primeira experiência com um manhwa e eu não tenho tanto conhecimento da cultura coreana quanto eu tenho das culturas japonesa e chinesa. Por outro lado, sempre gostei muito de histórias que se passam na era feudal. Parecia um universo novo a ser explorado em território relativamente seguro.
Her Shim-Cheong é uma releitura da história Sim Cheong-jeon (A história de Sim-Cheong). Nela, Cheong, uma mendiga órfã de mãe, decide ser jogada no mar como sacrifício para curar a cegueira de seu pai. Como prêmio por sua devoção filial, Cheong volta à vida como imperatriz e seu pai é curado.
Por ser uma releitura, Her Shim-Cheong traz outros elementos para essa história. O mais importante dele é a presença da Madame. Sim, ela é chamada dessa forma e o leitor nunca descobre seu nome verdadeiro. Lembrando que, na época da história, as mulheres não tinham nome. Eram conhecidas apenas por um nome popular ou por sua relação com um homem.
Madame vai se casar com um ministro, mas sofre um acidente de barco, cai no rio Indang e é salva por Cheong. O ministro adoece logo após o casamento e o rio fica inavegável. Logo, todos na cidade culpam Madame, que tem seu próprio plano para reverter a situação.
Um dos grandes trunfos de Her Shim-Cheong é o desenvolvimento das personagens femininas ao mesmo tempo em que demonstra a realidade da época. Cheong e Madame são sombras uma da outra. Cheong é miserável, iletrada e livre. Já Madame é rica, culta e presa às convenções sociais.
Os mundos delas começam a se misturar quando Madame faz de Cheong sua “assistente pessoal”. Ela lhe dá comida, roupas novas e ensina a se portar de uma forma mais feminina. Isso é importante para Cheong porque permite que ela seja melhor aceita pelos habitantes da cidade e conquiste alguns bicos para sobreviver. Por outro lado, seus novos objetos de luxo chamam atenção indesejada e sua aparência mais feminina lhe deixa mais vulnerável a assédios.
Por sua vez, Cheong também traz Madame para o seu mundo, apesar dos vários avisos para não fazê-lo. Ela ensina Madame a andar nas ruas e nos campos e demonstra que há um lugar seguro para que ela seja ela mesma. Aqui lembrando que as mulheres da alta sociedade coreana na época só podiam passear pela cidade em carruagens e não podiam dançar ou confrontar homens diretamente.
Aliás, a masculinidade tóxica é outro tema aqui, abordado em diferentes frentes. O próprio pai de Shim-Cheong demonstra ser vítima disso, quando prefere acreditar em outras pessoas em vez da filha que é responsável pelo seu sustento.
O mesmo vale para o irmão de Madame, que teve muitas chances para ganhar um bom emprego, mas gastou todo seu dinheiro com mulheres e agora usa a irmã para tentar conseguir o cargo de funcionário público. Ele a agride quando acha que ela não está se esforçando o bastante.
Já o enteado de Madame faz de tudo para se livrar dela, utilizando até mesmo pretextos religiosos e espalhando que ela é, na verdade, uma raposa. Ele também espanca sua própria esposa quando ela estraga seus planos.
Mas a joia da coroa vai para o monge local, que se apresenta como mentor de Cheong inicialmente e depois se revela uma pessoa extremamente manipuladora, culpando-a pelo assédio que recebia dos moradores do vilarejo ao mesmo tempo em que fazia ela passar por penitências para “purificar” a alma de Madame.
Her Shim-Cheong é uma história de amor sobre duas garotas completamente diferentes em uma sociedade totalmente opressora. O lado bom é que, apesar de todos os acontecimentos ruins, há um final feliz.
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